Sobre o asfalto quente da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, um vulto de cor azul-safira deixava um nauseante cheiro de diesel queimado por onde passava.
Doravante, o restaurante tinha suas paredes cobertas por azulejos de cor verde-oliva. Que faziam com que a luz que entrava por cada janela guilhotina cegasse momentaneamente os pouco habituados a uma decoração de mau gosto.
Na “Praça Próspero Albanese”, à sombra de um coreto, o quarteto fazia o “quilo”.
O quarteto caminhava pelas ruas de Springfield Paulista, à procura de um mercado, um empório ou algo que o valha. O que faziam por meio de passadas largas. Como se desfilassem pela calçada. Em que, com exceção de Thaís, Tatiana o fazia com suas sandálias berecê pretas, Tânia efetuava com suas sandálias rasteiras com cor de couro cru e Thábata cumpria com suas charmants de couro sintético preto. Consequentemente, promovendo uma série de estalos ao chocarem suas solas contra o solo.
No banheiro do hotel, em meio a azulejos azuis-claros, Thaís e Tânia se encontravam diante de uma banheira encardida. Sendo que Thaís segurava a garrafa de Fanta Laranja. A qual abriu e insinuou esvaziá-la na banheira. Porém, titubeou.
Enquanto, no seu interior, através de um potente “Subwoofer Pioneer TS-W308 D2/D4”, a voz de John Fogerty entoava o verso que diz: “Hey Tonight”. Entretanto, a música desempenhada pelo “Creedence Clearwater Revival” contrastava com a realidade das ocupantes do “Cadillac Conversível Série 62”. Ora que fugiam de uma noite que não lhes levou às alturas. E o Sol que ardia no firmamento não lhes era nenhum pouco sedutor. Pois seu calor fazia com que as sombras de suas maquiagens escorressem por baixo de seus grandes óculos escuros da “Gucci” e rasurassem-lhes as faces como lágrimas negras. Ademais, uma série irregular de interferências começou a atravancar as ondas do rádio. Estancando a canção com um chiado chato. Um barulho que era entrecortado por momentos de silêncio. E sendo silenciado de vez quando Tatiana Tavares esticou o braço esquerdo, em cujo pulso pendia uma fita vermelha, e, do banco do carona, desligou o rádio.
Todavia, Tatiana tinha vinte e dois anos e era a Miss São Paulo. Sendo que era dona de um rosto afilado e ligeiramente arredondado nas extremidades. Com sua cabeleira marrom-escura caracterizada por um penteado “emo girl”.
- Não acredito que aquela cachaceira ganhou – a cuja resmungou. – Lá no hotel, ela se entupiu de pinga e se cagou toda.
- Ela deve estar de “fu” com o Figueira. Afinal, o “figura” é o “cabeça” do evento – comentou Thábata Tobias.
Thábata que tinha vinte e cinco anos e era a Miss Rio Grande do Sul. E tinha traços visuais contidos; mas harmônicos na composição de seu rosto alongado. Com o detalhe de que aparentava ter fugido do final da década de 1950. Pois seu penteado “colméia” lhe dava um aspecto nostálgico. Típico de uma legítima “pin-up”. Sendo que seu cabelo loiro era preso à trama com tanto prumo que a velocidade que empunha ao veículo não lhe comprometia a vaidade.
- Tem macho que gosta de “meter” com “cabrita” cagada. Dizem que o cacete desliza melhor – comentou Tânia Tamires.
Tânia que tinha vinte e três anos e era a Miss Ceará. E possuía uma fisionomia graciosa. Do tipo que seduzia ao externar um excesso de ingenuidade. Visto que a simplicidade de seu sorriso revelava apetitosas maçãs do rosto. E o penteado “princesa”, com as madeixas aloiradas soltas, lhe deixava com um jeito de boneca.
- Que nojo – criticou Thábata. – Este é o motivo por que tu não levaste o prêmio de Miss Simpatia.
- Macho não “mete” com Miss Simpatia. Por isso que o prêmio foi enfiado no rabo dessa aí – e, com um sorriso discreto, olhou para sua esquerda.
- Você está querendo dizer o quê? – perguntou Thaís Teles.
- Eu tô...
- Ela está dizendo que você é uma dama e ela é uma vadia – concluiu Tatiana.
- Obrigada – ironicamente, Tânia agradeceu.
- Obrigada – com mais ironia, Thaís também agradeceu.
Thaís que tinha vinte e quatro anos e era a Miss Goiás. E carregava no semblante uma seriedade que fazia com que seu interlocutor se sentisse querido. Já que o nariz pequeno e delicadamente empinado e os lábios grossos geravam uma beleza orgânica. Que é comum à primeira vista. E se torna cativante à medida que o tempo passa. Mais o fato de que era “exotizada” pela trança francesa frontal que lhe caía para a direita; a lhe cobrir de charme o cabelo marrom-claro.
- E por falar em vadia, em vadiagem, teu pai não vai ligar de tu ter pegado o veículo dele? – por meio dessa indagação, Tânia tentou revidar.
- Ele o está reformando para o neto dele – Tatiana esclareceu.
- Mas você não tem filho – Thaís comentou.
- Quem garante que eu não vá encomendar?
- Depois, tu fala de mim? – indignadamente, a cearense retrucou.
- E por falar nisso, além da minha carteira de motorista me transformar em chofer e vocês em passageiras, tem mais alguma coisa em que a gente vai se transformar? – perguntou a gaúcha.
- Olha, Thábata: depois do concurso de Miss Brasil, eu concluí que esse negócio de ganhar a vida com a bunda é uma roubada – Tatiana falou.
- Mas nós não perdemos para a mineira. Perdemos porque o sistema queria que fosse assim – Thaís complementou.
- Tu estás teorizando demais – comentou Thábata.
- Não tô, não.
- Não tá, não – a paulista emendou. – O nosso fracasso é parte de uma conspiração. Uma necessidade de mercado. Já que o fracasso de uma mulher bonita representa o fim da esperança de uma menina feia.
- O que faremos, então? – insistiu a gaúcha.
- Faremos uma revolução.
- Trilegal, tchê!
- Mas como? – Thaís se interessou.
- Vamos virar uma quadrilha.
- Por quê?
- Somos quatro – Thábata elucidou.
- Ela tá certa –Tânia comentou. – Se fôssemos três, seriamos um terço.
- Não seria um quarteto? – perguntou Tatiana.
- Quarteto e quadrilha é tudo a mesma coisa – concluiu Thábata.
- Tipo: guerrilheiras? – perguntou Thaís.
- Sim! – confirmou Tatiana. – Seremos guerrilheiras. Guerrilheiras esquerdistas.
- Esquerdistas! Esquerdistas! Uh! – o quadro bradou.
Então, um silêncio selou a estagnação da efêmera euforia.
Mas não por um prazo longo. Pois Thaís perguntou:
- Cibratel ainda é longe?
- Não muito – respondeu Tatiana. – Por quê?
- É hora da saladinha.
- Agora, tu és bandida, guria – Thábata avisou. – Tu tens de devorar carne, tchê.
- Num posso.
- Por quê?
- Carne não faz bem para a minha bunda.
- Para com isso – Thábata bronqueou. E, inutilmente, olhou para o lado, à procura de um apoio da colega. Um alento que não obteve. Logo, passou a olhar, ora, para a pista e, ora, para a direita.
- O que foi? – perguntou Tatiana que, em uma ocasião de infortúnio, espiara a gaúcha, no momento em que estava sob a vigilância da dita.
- Até tu?
- Ué?! Só viramos bandidas há cinco minutos.
E o grupo novamente se emudeceu.
- Tati! – chamou Thaís.
- Fala.
- Se o carro é do neto do seu papai, seu papai sabe que a futura mamãe do neto dele vai para a casa de praia da família?
- O que você acha?
- Acho que, na despensa, só vai haver enlatado com prazo de validade vencido.
- O quê? – Thábata indagou.
- Tu não falou nada disso – Tânia lembrou.
Quando, à direita, Tatiana viu uma placa verde a indicar que a primeira saída desembocava na cidade de “Springfield Paulista”.
- Vamos para Springfield Paulista.
- Springfield Paulista? – estranhou Thaís.
- Sim! É na primeira saída à direita. Tem o “Restaurante Vegano” lá.
Logo, o pisca alerta traseiro cintilou. E, então, a curva, à direita, o Cadillac começou a contornar.
Em função dessa falta de senso estético, junto a cada janela uma mesa de madeira crua para quatro lugares fora postada. Com a função de reduzir a sensação de abafamento que o ambiente causava.
Ademais, em uma delas, à direita, estavam sentadas Thaís e Tatiana. Que, com a disposição de éguas, mascavam e engoliam fragmentos de vastas porções de salada que muniam seus pratos. Sendo que tanto as íris verdes da goiana como as castanhas da paulista não se perdiam do prato de Tânia. Prato que “enfeitava” a mesa. Pois assento que se situava ao lado sinistro da mesma estava vago. E, por isso, de quando em quando, cada qual lhe “garfava” uma rodela de tomate ou palmito.
Tudo sob a fiscalização dos mórbidos olhos azuis de Thábata. Dado que, do lado de fora do estabelecimento, junto à janela, ela se encontrava. A se deliciar com os pedaços de picanha que estavam empalados em um espetinho de madeira.
- A “paraíba” não para de tagarelar com o garçom – comentou a gaúcha.
- Ainda hoje, ela vai dar um jeito de dar para ele – Tatiana afirmou.
- Será?
- Você conhece ela.
- Mas ele é tão guri.
- E ela gosta de “homão” – explicou Thaís.
- Eu aposto cinco reais.
- Apostas só levam a mais apostas.
- Por mim, está apostado – aceitou Thábata.
Quando Tânia regressou à mesa. E se sentou sem conseguir conter o largo sorriso que lhe fazia comprimir os olhos amendoados.
- Ainda bem, Tati, que tu teve a ideia de pegarmos um dormitório no hotel – comentou a cearense.
- O carro irá ficar mais seguro lá, do que na rua – maliciosamente, Tatiana falou.
- Com certeza. E também porque me parece que eu vou carecer de me enrolar no leito, antes de zarparmos.
Quando a paulista lançou um olhar carregado de escárnio para a gaúcha.
- Mas, o que eu quero saber, é o que é que a gente vai fazer? – Thaís perguntou.
- Bem, eu tive uma ideia – Tatiana salientou.
- Qual? – indagou Thábata.
- Usarmos o talento de cada uma de nós. Em especial, da Tânia. Não sei se vocês sabem, mas o meu cabeleireiro disse que tem clínica de fertilização artificial com o estoque vazio.
- Espere aí! Quem é o teu cabeleireiro?
- O Geraldino.
- Ah, o meu é outro.
- Com a grana que a gente vai ganhar, você poderá marcar uma sessão com o meu.
- Convencida.
- Mas você quer assaltar uma clínica de esperma? – questionou Thaís.
- Não. Quero assaltar uma fábrica de esperma – esclareceu Tatiana.
- E tem fábrica disso?
- Claro que tem. É o saco.
- Saco?
- Os “ovinhos” de marmanjo – explicou Tânia.
- Isso! – concordou Tatiana. – Nós vamos tirar o “licor de coco” do saco de um cara e vender para uma clínica.
- Não sabiam que compravam porra.
- Compram, sim. O meu cabeleireiro disse que ele e o namorado dele quitaram a quitinete deles batendo punheta.
- Caramba! Se eu pudesse vomitar tudo que engoli, ficaria milionária.
- Agora, não é momento de arrependimento – alertou Thábata. – Qual é a jogada?
- É simples – iniciou Tatiana –: a gente pega uma bolsa térmica e enche de gelo, para conservar a porra. Aí...
- Mas a porra não sai de dentro do homem quente? – perguntou Thaís.
- É que nem comida. No começo, é quente. Depois, a gente congela. Aí, requenta para comer de novo. Mas, voltando ao plano, a gente pega uma garrafa de “caralhada”, mete na bolsa e vende para a clínica.
- Uma garrafa de qual tamanho?
- De dois litros. Quanto mais, melhor.
- Mas, assim, vamos necessitar de um “leiteiro”.
- “Leiteiro” não existe mais – corrigiu Thábata.
- É “leiteiro” de nego “porrento” – aclarou Tatiana.
- Ah... Entendi... É de produtor. Boa!
- Mas de dois litros? – indagou Thaís.
- Qual o problema? – Tatiana perguntou.
- É que, assim, você vai matar o cara.
- Separaram você e a gaúcha depois do parto?
- Não. Por quê?
- A gente pega de tudo quanto é pau. Afinal, porra é porra.
- Podemos começar pelo garçom – propôs Tânia. – Ele até me passou o número do celular dele. E, além do mais, ele é uma gracinha.
- Thábata – chamou Tatiana.
- Que tu queres, guria?
- Os meus cinco reais.
Ademais, de pernas cruzadas, Thaís estava sentada ao chão. Com os pés descalços e com suas amarelas havaianas em estilo gladiador jazendo à sua frente. E usando como espelho, a fim de corrigir os cílios, as lentes amarronzadas dos óculos “Dark Brown”. Um acessório que fora distribuído pela patrocinadora do concurso de Miss Brasil às suas participantes.
Enquanto Tânia relaxava por trás das lentes igualmente marrons dos seus óculos “Aubergine”. Dado que mantinha seu nariz apontado para cima e emitia alguns sons de atenuação enquanto, por cima do seu short com renda azul, apalpava a própria bunda. E o efetuava através de um letárgico abrir e fechar de mãos. Numa espécie de massagem.
Algo que chamava a atenção de dois aposentados que exercitavam o ócio ao permanecerem inertes em um banco enseada.
Todavia, Thábata desabotoara sua camisa “crop top”, listrada em tons de cinza, até o limite que seu desapego por sutiãs permitia. Limite estabelecido por uma única casa de botão a ser utilizada. Onde pendurara o seu “Shiny Black”, com lentes cinzas, com o fim de apreciar o desaparecimento do picolé de limão que, com pornográficas chupadas, consumia.
Sem mais, por meio das lentes acinzentadas do seu “Dark Ruthenium”, Tatiana observava seu “Smartphone Apple” com motivos de zebra. O qual acionou. E do qual vazou o ruído de três chamadas. Então, uma voz aveludada e efeminada atendeu.
- Fala, Cascavel. Como é que anda seu “day after”.
- Anda parado.
- A mineira ficou um luxo com a sua coroa.
- Geraldino, me dá um “time”, que eu não tô a fim.
- Não fica estressada; que você passa de “cascavel” para “jararaca”.
- Vou te falar, na real. Ver ela no meu posto, foi pior do que passar a noite com ela cagando pelo quarto e acordar com o meu nariz fedendo à bosta.
- Sua “cascavel”.
- Me passa o telefone daquela clínica de fertilização de que você me falou – pediu ao pegar no bolso da camisa uma caneta “Montblanc Boheme Black Onyx” e, com um movimento simultâneo do polegar e do indicador, girar-lhe a base.
- Arranjou um “bofe”? Com seu “popô”, sempre terá uma “pica” atrás de ti.
- Quero uma comissão por serviços prestados.
- Mandou bem, Cascavel. Arranca o caldo do caralho.
- Qual é o “tel”?
- É da “Clínica Bons Amigos”. E é dois mil e onze, um mil, cento e dois.
- Sim – confirmou ao escrever o número no seu antebraço esquerdo.
- “Notou”?
- “Notei”. Bye – e desligou.
- Por que é que ele, ou ela, te chama de “cascavel”? – Thaís perguntou.
- Porque eu sou peçonhenta e mexo o rabo.
- Depois, você fala de mim – retrucou Tânia.
- É que você não mexe o rabo. Você mexe com o rabo.
- Não entendi.
Sem mais, Tatiana consultou seu antebraço e ligou para o lugar em questão. Então, dois sons de chamada soaram. E uma voz quase metálica – típica de quem exerce o mesmo ofício há anos – se pronunciou:
- Clínica Bons Amigos, boa tarde. Em que a nossa experiência há de ser-lhe útil?
- Eu quero vender o meu esperma.
- Perdão...
- Eu quero vender o esperma do meu marido para vocês.
- Para isso, o seu marido deverá vir aqui, preencher um formulário e, depois, aguardar a convocação para a realização de exames físicos e testes psicológicos.
- Mas ele é tímido.
- Nós zelamos por nossa qualidade.
- Você está chamando o meu marido de desqualificado?
- Pelo contrário! Entendemos a inseminação artificial como uma fábrica de milagres. E cada criança que ajudamos a vir ao mundo é vista como uma ferramenta de marketing eficaz. Logo, isso requer que a mulher certa seja fertilizada com o esperma correto. E, para isso, as características dela e do doador devem passar por um algoritmo criado com o fim de harmonizá-los.
- É isso que eu chamo de “esperma gourmet”.
- Muito bem observado, senhora... Qual é mesmo a graça da senhora?
- A gente se fala – e desligou o aparelho. Então, se dirigiu às demais: - Vocês ouviram?
- Somos menos surdas do que você – Tânia comentou.
- Vá cagar no mato.
- Isso não vai funcionar – desanimadamente, Thaís comentou.
- Nós temos que ser mais “pró-ativas”. Não podemos ser “reativas”.
- Tu estás certa – observou Thábata. – Se levarmos a porra para lá, ela não terá do que falar.
- Você tem razão. Vamos comprar a bolsa térmica, o gelo e a garrafa.
- E o esperma? – questionou Tânia.
- Você colhe da fonte.
- Por que eu?
- Você quer que eu cuide do garçom?
- Sua “cascavel”.
O que forçava os curiosos a olharem pelas janelas, a fim de ver qual era a razão de tanto “pipoco”.
Doravante, à moda de Thábata, e ainda se excetuando Thaís, que vestia uma blusa de alcinha com cor de giz, Tatiana e Tânia exibiam barrigas talhadas por uma vida de refeição balanceada e muito exercício físico. Dado que uma se trajava com uma camisa de manga cavada preta e com colarinho branco e a outra usava uma camisete drapeada com manga ¾ e cor rosa-choque.
Assim, chamando a atenção de uma coroa que fumava um “Kretek”. E resultando em uma desatenção que provocou a ira de uma velhota de pouca estatura e que a acompanhava. Uma ira que se via através das lentes bifocais que lhe compunham os óculos com armação de acetato preto.
E, como Tânia, Tatiana se valia do seu short tweed preto, Thábata, do seu short saia estampado com motivos abstratos em tons de cinza, e Thaís, do seu short jeans de bolsos na cor azul, para valorizarem seus glúteos. Os quais, como que a subestimar uma futura hérnia de disco, eram jogados de um lado ao outro, durante o passeio.
O que fez com que um gordinho bigodudo – que parecia a reencarnação do John Belushi – reduzisse a velocidade do seu “ Corsa Sedan” prata para apreciá-los.
- Eu tô falando – dizia Tânia –, o cara é um reprodutor.
- Eu não vi esse homem todo nele – Thaís contradizia. – Você vai me desculpar.
- É que tu não olhou do jeito certo.
- E como se olha do jeito certo?
- Se olha pelo olho do cu.
Quando o assunto foi silenciado pelo olhar reprovador de um casal de idosos que por elas passou.
- Tem um mercado ali – Thábata avisou ao apontar para o destino almejado.
Sem mais, elas atravessaram a rua, com o fim de alcançar o “Kwik-e-Mart”.
- Esperem aqui – disse Tatiana, assim que pisaram na esquina em que se situava o estabelecimento.
- Onde tu vai? – Thábata indagou.
- Onde ela vai? – Thaís perguntou a Thábata. Obtendo a mesma resposta que a gaúcha recebera da paulista.
E, assim, elas viram Tatiana entrar no mercado.
- Ela deve estar “cerebrando” algo – Tânia comentou.
- Como é que você sabe?
- Quando ela fica excitada, ela requebra o rabo mais do que de costume.
- Tu tá levando esse papo de “cascavel” para além do limite – observou Thábata.
- Tô falando sério. É para arejar. Você não sentiu o cheiro de “xoxota”que ficou no ar?
- Para com isso.
- Eu senti – confirmou Thaís. – Mas eu pensei que fosse você.
- Por que eu?
Quando, apressadamente, Tatiana deixou o estabelecimento e se juntou às suas falando:
- É o seguinte, gente: vão para aquela janela, ali – e apontou para uma rua transversal à da entrada do mercado; onde havia duas janelas igualmente engradadas e com vista para o estacionamento.
- De lá para cá, ou de cá para lá? – indagou Thaís.
- Daqui para lá – e, sem delongas, voltou para o mercado.
- Onde tu vai? – por teimosia, Thábata insistiu em perguntar.
Ademais, o, agora, trio caminhou para a tal janela. Que ficava diante de uma vaga. Enquanto, de fronte para a outra janela estava um Sedan prata.
- Thábata – chamou Thaís.
- Que tu queres, guria?
- Será que isso vai dar certo?
- Não há dúvida. Se der errado, nós já estamos fazendo tudo errado mesmo. Então, tudo só pode dar certo.
- Não entendi – comentou Tânia.
- Ou! – berrou Tatiana. – Até quando vocês vão ficar de “pataquada”?
- O que tu faz aí? – a cearense indagou ao ver a paulista tentando escancarar ao máximo o vitrô da janela.
- Vem cá, Tânia – e, por entre o vitrô, com certo esforço, foi empurrando uma garrafa de “Fanta Laranja” de dois litros. Garrafa que, então, espremeu por entre as grades, arrancando lascas da tinta branca que as envolvia, e entregou-a a sua colega de quadrilha.
- Você está roubando isso? – questionou Thaís.
- Eu, não. É a Tânia que está.
- O quê?! – perguntou a Miss Ceará.
- Agora, vocês duas vão para o hotel e iniciem o plano.
- É nós – Thábata indagou.
- Nós temos “coisa” para fazer.
- O quê? – Tânia se interessou em saber.
- Vocês estão esperando o quê? Vão esquentar o garçom que, daqui a pouco, iremos lá.
E, sem mais, mas um tanto contrariada com o excesso liderança da colega, a dupla acatou.
Então, Tatiana amassou uma bolsa térmica azul-turquesa, passou para Thábata e falou:
- Abre ela.
- Para quê?
- Você vai cagar dentro dela.
- Que boca! Que vocabulário! É por isso que tu...
- Não ganhou o prêmio de Miss Simpatia. Eu sei.
- Ah!
Quando Tatiana se voltou para dentro do banheiro. Para, com um salto, descer do vaso sanitário. Logo, apanhou um saco com gelo, que estava encostado na porta, e o jogou contra o chão. Depois, o pegou, abriu-o, subiu na privada, olhou pelo vitrô e falou:
- Toma aí – e passou as pedras de gelo para Thábata.
- Por que é que tu não compras o gelo logo de uma vez? – perguntou a outra ao colocar o gelo dentro da bolsa.
- Como é que vamos ser criminosas, se não praticarmos?
Todavia, dentro do mercado, de um ponto junto ao balcão, a porta do banheiro feminino era observada. Dado que, por um pequeno corredor, formado por dois pares transversais de prateleiras, ela ficava à vista do seu proprietário e daquele gordinho bigodudo. Gordinho que trajava uma camiseta branca em que estava escrito “Vote for Pedro”, um bermudão preto e calçava um par de “crocs” com motivos de pele de jacaré. E em mãos tinha um chuveiro de 110 volts. Sobre o qual conversava com o dono do mercado até que os sons que vazavam do banheiro lhes dispersou o papo. Todavia, o dono calçava um sapato preto de bico quadrado, usava uma calça de linho em cor grafite, uma camisa de manga curta e cinza e um colete preto, com o nome “Kwik-e-Mart” bordado, em tipo “Ariel” argentado, sobre o lado direito do peito. E, embora, possuísse quarenta anos, era envelhecido por uma calvície que fazia com que sua rosada e lustrosa cuca fossa adornada por uma réstia de cabelos vermelhos. Sendo que ele não desgrudava os olhos – cujas veias faziam parecer mais verdes do que eram – da porta que, em um momento de descontração, discriminara com a colocação de uma chapa em que estava escrito “Xixi”, com letras cor de rosa. Em contraste com a placa em que estava escrito “Pipi”, em azul; que fixara na porta do banheiro masculino. Ademais, dentre a série de bizarros barulhos abafados que saíam de lá, se ouviu o ruído de saltos batendo no chão, da tampa do vaso sanitário colidindo contra o azulejo, o de uma insistente descarga e da tampa golpeando a porcelana do assento sanitário. Quando a porta se abriu e, rapidamente, Tatiana saiu do toalete. Sem perder tempo ou dar confiança a alguém, deixando o recinto. Então, sob o olhar do gordinho, o proprietário caminhou rumo ao banheiro. Irritando-se à medida que o alcançava. Com uma azia insuportável lhe fazendo contorcer os lábios. E, assim que entrou no toalete, procurou pelos produtos que ela levara ao seu interior. Olhando pelos cantos e até atrás da porta. Então, olhou para o vitrô e para a tampa do vaso, onde havia pegadas. E notou um vazamento de água. Visto que a tampa não se fechava devido a um plástico que lhe pendia do lado direito. Um plástico que de cuja ponta pingava gotas d’água sobre uma poça que se formara sobre o porcelanato branco. Sem mais, ele ergueu a tampa, jogando mais água para fora, e a arremessou contra a risca horizontal cinza que maculava o cândido do azulejo. O que o fez pensar que cuspiria sangue em virtude da ira que o apossou. Já que a privada transbordava por causa do saco plástico que a atulhava.
- Que bosta! Isso é mais bosta do que a merda!
Doravante, com um jogo de passos pesados e ignorando o sorriso sem graça do barrigudo, ele voltou para junto do balcão. Debruçou-se sobre o mesmo e pegou um telefone sem fio. Então, se endireitou, respirou fundo e digitou um número de três algarismos. Consequentemente, por três vezes soou o sinal de chamada e uma voz masculina, firme e grave se pronunciou:
- Polícia Militar Emergência...
- Por que estancou? – Tânia questionou.
- Vamos desperdiçar esse “refri”? Tem gente faminta, na África.
- Faminta! E não, “sedenta”.
- Você sabe o que é “fome”?
- Essa bebida não faz bem para a minha bunda. É boa para a tua?
- Não.
- Agora, nós somos guerrilheiras esquerdistas. Não precisamos nos sujeitar à cabeça dos burgueses capitalistas.
- Você tem razão.
- Vamos acelerar. O Paulinho não demora.
- É verdade – disse ao olhar, com remorso, para a banheira.
- Só que tem um “porém”.
- Qual?
- Como é que eu vou fazer com ele?
- Ué! Como você sempre faz.
- Não é isso. É que se eu chupar o “mangaio” e cuspir na garrafa, ele vai reparar. E não vai mais querer “meter” comigo.
- Por que é que você acha isso?
- Ele vai querer saber o motivo.
- Fala a verdade.
- Falar que vou vender a porra dele? Não vai colar.
- Tenho uma ideia.
- Diga.
- Vou hipnotizar o rapaz.
- Tá de troça?
- Não. Só que, primeiro, eu preciso por ele para “nanar”.
- Mas o bicho vem para “tchutchucar”. Assim, o pau não sobe.
- Sobe, sim. Só precisamos derrubá-lo.
- Eu tenho um jeito.
- Qual?
Quando tocou a campainha.
- Depois, eu te conto. Atende à porta e segura o “bagre”. Que vou aprontar tudo.
Então, Thaís deu a garrafa para Tânia e saiu do toalete; fechando a porta ao completar o trajeto.
Consequentemente, no quarto, ela se postou em frente à porta. Respirou profundamente, ajeitou os seios, ajustou o cavalo do short às suas partes íntimas e esperou que a campainha fosse soada pela segunda vez. O que não tardou. Sem mais, ela abriu a porta e se deparou com um sujeito totalmente diferente da figura formal que a atendera. E, enfim, viu o que Tânia antevira. Algo que fez sua vagina “gemer”. Já que se sentiu atraída pela pele bronzeada e ondulada por uma sucessão de músculos que a camiseta regata branca dele revelava. E, em um devaneio, imaginou seu nome tatuado embaixo do cavalo rampante negro que ornava o tríceps destro do dito.
- Oi – saudou Paulinho.
- Oi.
- A Tânia me ligou e disse que vocês estariam a minha espera.
- Estou... Quero... Queira entrar.
Um convite que, com um sorriso, ele aceitou. E, sem mais, Thaís fechou a porta. Contudo, com um excesso de força que fez com que um naco do reboco do teto caísse e se espatifasse no chão. O que levantou uma branda poeira. Para a qual ela nem deu atenção. Já que não conseguia deixar de olhar para os volumes que se destacavam na bermuda bege e com frios que ele usava. E, por alguma desconhecida razão, ela se via fascinada pelas canelas peludas que a veste não ocultava.
- A Tânia me disse que você é uma espécie de aventureiro – Thaís puxou assunto, sem reparar que não conseguia parar de sorrir para o cujo.
- Eu costumo arranjar um “bico” nas cidades que quero conhecer. Assim, posso pagar a minha hospedagem e me familiarizar com um pouco da cultura local.
- Então você está hospedado aqui?
- Mais perto, impossível.
- Pode ser – ela, em parte, concordou, sem notar que se aproximava dele.
- Depois que saí do restaurante, fui ao meu quarto, tomei um banho completo, perfumei a “casca”, vesti uma roupa de “gente” e vim “praqui”.
- Que bom.
- Ótimo – ele disse ao reparar que não havia uma cama de casal. Apenas dois leitos de viúva. Que teriam que ser unidos junto à esguia janela de correr com quatro folhas, a fim de que os três pudessem concretizar uma confraternização sexual.
Quando Thaís o abraçou e beijou-o. Entretanto, um arrependimento a fez se conter. Não indo além do que sabia que não teria volta. E, também, não fugindo a tempo de se condenar por sua covardia. Já que foi retida pelos braços fortes de Paulinho.
- Desculpa – implorou Thaís. – Mas você é lindo.
Então, a porta do banheiro se abriu. E, com a ginga de uma potranca no cio, Tânia saiu nua de dentro dele.
- Não vão começar sem eu – com uma voz propositalmente enrouquecida, ela se pronunciou.
Nesse instante, Thaís sentiu uma “pontada” de ciúme. Visto que a bermuda do rapaz se avolumou de vez.
- Só tratávamos de nos entrosar – ele explicou.
- Por que tu não te entrosa comigo?
- Bem...
Sem mais, Tânia se meteu entre o casal. Empurrando Thaís para o lado e cravando as nádegas na pélvis dele. E, se aproveitando de que braços de Paulinho estavam livres, segurou-lhes pelos pulsos e cruzou-os sobre o peito seu; pousando-lhe as mãos sobre as pontudas tetas. Para, então, com alguns passos para trás, guiá-lo rumo à cama que ficava à direita da janela. De modo que, com uma “bundada”, fê-lo cair sentado sobre ela. E, com mais um passo para trás, apoiou as mãos sobre os joelhos, oferecendo o rego à apreciação de Paulinho.
- Me prova, neguinho.
Logo, com uma languida lambida, ele conheceu as particularidades dela. Com a testa, então, apoiou o cocuruto na bunda de Tânia e roncou profundamente. E, sem mais, por meio de um espasmo pélvico, ela o jogou deitado sobre o leito.
- Caramba! – se espantou Thaís.
- “Ca-ta-pumba”! – Tânia falou ao se erguer e olhar para o corpo desfalecido de Paulinho.
- Há quanto tempo você não lava a bunda?
- Passei sonífero no cu.
- O quê?
- Minha mãe que ensinou. No começo, era para permanecer virgem. Depois, para não engravidar.
- Do primeiro jeito, pelo jeito, não funcionou.
- Nem do segundo.
- Você é mamãe?
- Eu fiz um aborto.
- Um aborto?
- Na verdade, uns três.
- Três?
- E quem não fez?
- Eu nunca fiz e nunca farei. Toda vida tem um lugar na Terra.
- Deixa para lá.
- Então, me ajuda.
- O que tu vai fazer?
- Me ajuda – repetiu o pedido ao subir na cama e puxar Paulinho pelas axilas. – Vou hipnotizá-lo.
- Sei – Tânia falou ao erguer as pernas dele e facilitar o seu posicionamento sobre o leito. – Quero dizer: para que serve isso?
- Para liberar a mente dele.
- Mas isso não é “cascata”?
- Não! Eu fiz, para fazer o desfile de trajes de banho sem ficar excitada.
- E, depois, a Cascavel fala de mim.
Ademais, Thaís retirou a camiseta dele. Enquanto Tânia tirou-lhe as havaianas pretas e a bermuda.
- Hum... Ele não usa cueca – Tânia comentou ao, a exemplo da colega, jogar a veste e os calçados ao chão.
- Vamos lá – disse Thaís ao se ajoelhar e se posicionar de uma forma em que a cabeça de Paulinho ficou aninhada entre suas coxas. Então, olhou para Tânia e perguntou: – Cadê a garrafa.
- “Ochê”! Me espere, um “instantinho” – então, Tânia correu até o banheiro e, logo, voltou com a garrafa. E, calmamente, sentou-se ao pé da cama.
- Paulinho... Paulinho... Paulinho... – morosamente, Thaís falou. – Você está relaxado. Sim, você está relaxado e calmo. Sendo que você está no seu local de felicidade. E, por isso, vai se separar dos seus medos. Para, com eles, realizar suas mais obscuras fantasias. Pois eles são fragmentos do que você realmente quer.
- Tá funcionando – Tânia relatou ao ver o pênis dele se enrijecendo.
Todavia, no plano onírico, Paulinho estava no mesmo quarto. Deitado sobre a mesma cama. Contudo, com tudo envolto por uma cerração que se desprendia das paredes. Uma cerração abafada. Que fazia com que o lençol que forrava o colchão se umedecesse com a transpiração dele. Então, sobre o leito subiu um boliviana obesa. Sim, uma mulher nojenta. Coberta por um suor viscoso. E que começou a beijar-lhe os testículos. Em seguida, aos ósculos, escalou-lhe o falo. Então, se ergueu. Levantou a grande perna direita e, como um cachorro a urinar, revelou uma sombria vagina. Que ele não teve tempo para examinar. Pois ela o cobriu com a imensa cintura. Com isso, montando no pênis que, dentro dela, não passava de um reles detalhe. E, com um olhar enigmático, começou a galopar. Exercendo uma pressão que fazia com que as madeiras da cama rangessem. Sendo que, sob os joelhos dela, o lençol e a sarja, que envolvia o colchão, se rasgaram. Quando, sem mais, ela parou. E foi se deitando sobre ele. Cobrindo-o com uma banha que era retida por uma tez fria, grudenta e perebenta. Cujo peso comprimiu os pulmões de Paulinho. Tanto que ele sentiu as costelas estalarem. E, com as nefastas tetas, ela cobriu-lhe a face.
O que fez com que, na realidade, Tânia tirasse a boca do membro dele ao vê-lo bufar.
- O que tá acontecendo? – a cearense indagou ao se sentar e limpar do queixo a saliva que lhe escoria pelo maxilar inferior.
- Não sei.
Quando o rapaz foi acometido por convulsões.
- O Paulinho vai se estrepar, Thaís.
- Volta, Paulinho! Volta!
Logo, da cama ele pulou. Pulou com tanto desespero que até torceu o tornozelo direito. Porém, a adrenalina o anestesiava a ponto de ficar indiferente ao fato de que essa lesão o impedia de se equilibrar. E, com os olhos castanhos arregalados, freneticamente, ele olhava para os lados. Não enxergando nada. Nada além da expectativa de que a alucinação o perseguiria. O que pouco demorou. Ora que ele viu a boliviana parruda, com as tetas a balangar, caminhando em sua direção. E, logo, procurou por uma rota de fuga. Como única alternativa, encontrando a janela. Para a qual se pôs a correr. E, na primeira passada, seu tornozelo, que estava completamente inchado, quebrou de vez. Fazendo com que rapidamente jogasse o peso do corpo para a outra perna e, com todo esforço, se atirasse pela janela. Que, por estar entreaberta, se espatifou.
- O que é que deu nele? – perguntou Thaís.
- Acho que ele é gay.
Ademais, as duas caminharam até a janela. E se depararam com mais estrago do que supunham. Pois viram Paulinho caído sobre um policial. O qual, como o tal, não aparentava estar vivo. Sendo que ambos estavam sob a apreciação de Tatiana e Thábata. Que por pouco estavam ilesas.
- O que é isso? – Tatiana berrou para o terceiro andar.
- “O que é isso”, pergunto eu – gritou Thaís.
- Nós fomos presas. Mas, como os guardinhas assistiram ao concurso de Miss Brasil, eu consegui convencer um deles a transar com a Tânia.
- Por que eu?
- Vamos embora! – bradou Thábata.
Sem mais, Tânia e Thaís se voltaram para o interior do quarto e correram em distintas direções. Posto que uma foi para a porta e a outra para o banheiro.
- Onde você vai? – questionou Thaís.
- Pegar a minha roupa – Tânia respondeu ao sair do banheiro carregando suas vestes. – Vamos?
- Não vai se vestir?
- Me cubro, depois.
Todavia, Thaís abriu a porta. Então as duas correram pelo corredor. Por um trajeto que não era curto. E era pavimentado com um assoalho de madeira. Que fazia com que o som da carreira ecoasse pelas paredes acinzentadas por um misto de desleixo com falta de iluminação. Sendo que, assim, atingiram o limite do mesmo. Então, desceram por uma curta escadaria e, em sentido oposto, atravessaram o antepenúltimo corredor. Desceram outra escadaria e, na direção contrária, enfrentaram o penúltimo corredor. Agora, com suas respirações forçadas a arranhar o ar. Para, enfim, chegarem à última escadaria de mármore branco.
Junto ao balcão da recepção do hotel, um velhinho trajado com um par de “congas” brancas, uma bermuda de linho cinza e uma camisa branca de manga curta, que estava com uma mancha amarelada de patê de atum, falava e gesticulava sem parar. Sem se importar com fato de que, a cada vocábulo, cobria o balcão e uma sineta banhada a ouro com gotículas de saliva.
- Tô falando, seu bruto! O peladão deu um voo sem asa, lá do quarto andar, e esmagou o infeliz de um policial.
- Aqui, só tem três andares – retrucou o gerente do hotel.
- Dá na mesma! Presta a atenção, rapaz!
- Tenha dó! Tu só me vem aqui, para falar bobagem – disse o sujeito que, por imposição do ofício, se trajava com sapatos, meias, calça e camisa pólo na cor branca. Mais um colete grená em cujas costas estava bordado, em tipo “Allegro” e dourado, a razão social do empreendimento: “Hotel Overlook”. E que, com o intento de dar um basta à prosa do coroa, falou: – Isso foi uma batida de carro.
- Não foi, seu bruto!
Quando a atenção de ambos foi chamada por Thaís e Tânia. Atenção que recaiu mais em Tânia do que em Thaís. E que os fez testemunhar que, com pouca velocidade, elas terminaram de cruzar o hall de entrada e saíram do hotel.
Então, aos pulos, entraram na parte de trás do Cadillac que, naquele exato instante, parara diante do hotel. E, sem mais, Thábata pisou no acelerador e deixou uma densa cortina de fumaça no desfecho da história.
São Paulo/SP
Próximo ao Metrô Santana
Telefone: 2977 0471
sábado, 18 de fevereiro de 2012
A QUADRILHA DAS MISSES ASSASSINAS
"...com a disposição de éguas,
mascavam e engoliam fragmentos
de vastas porções de salada..."
"...algo que chamava a atenção de dois
aposentados que exercitavam o ócio
ao permanecerem inertes em um banco enseada..."
"...0 que forçava os curiosos a olharem
pelas janelas, a fim de ver
qual era a razão de tanto 'pipoco'..."
"...em um devaneio, imaginou seu nome tatuado
embaixo do cavalo rampante negro que ornava
o tríceps destro do dito..."
Empório Laura Aguiar - Rua Gabriel Piza, 559, Santana