Durante vários anos, antes de se tornar um arremedo de rádio rock, a Kiss FM transmitiu um programa chamado “House of Blues”. Um programa produzido e apresentado por Ricardo Côrte Real. E que abordava todo o universo do blues.
Doravante, em uma de suas chamadas, Ricardo Côrte Real citou um trecho da introdução do livro “The Story of the Blues”. Publicado em 1969 e escrito por Paul Oliver. Do qual foi extraída a seguinte descrição: “O blues é o lamento dos oprimidos, o grito de independência, a paixão dos lascivos, a raiva dos frustrados e a gargalhada do fatalista. É a agonia da indecisão, o desespero do desempregado, a angústia dos destituídos e o humor seco do cínico”.
Ademais, na noite do dia 19 de julho de 2011, o frio fazia com que as pessoas se espremessem, no estacionamento do Ginásio Constâncio Vaz Guimarães. E o cheiro de couro era o indício de que muitos se aqueciam de dois jeitos. Primeiro, fisicamente. Por meio de ajeitadas jaquetas. E, em segundo, intelectualmente. Ao repelir qualquer defensor dos direitos dos animais. Que, com sua conversa fiada, “enfrescalharia” ainda mais a noite.
Assim, no (vulgo) Ginásio do Ibirapuera, ocorreu o “Ibira Moto Point”. Um evento realizado pela “Federação dos Motoclubes do Estado de São Paulo”. Evento que teve como atração musical a banda “Cracker Blues”. Que toca a autêntica música sertaneja norte-americana. E é composta por Coruja, na gaita e no vocal, Gaúcho, na bateria, Krüger, no baixo, e Marceleza, na guitarra; contando com o charme de Fernanda, a galega, e de Larissa, a morena, no acompanhamento. Sempre sob um figurino todo inspirado nos produtos de um brechó especializado em costumes e assessórios dos filmes de Sergio Leone.
Sem mais, na noite em questão, a banda também comercializou o seu primeiro e único álbum. “Entre o México e o Inferno”, lançado em 2009. Um álbum que tem na capa um Capeta ilustrado em estilo mangá. Muito bem-ajambrado. Com um terno grafite, anéis de “cafetão” e um chapéu-coco.
Um chapéu que ele tira da cabeça, em um elegante gesto de saudação. Relembrando a canção “Balão Apagado”. Que, em 1936, Noel Rosa lançou. Na qual o Demônio responde a um bilhete que se extraviou e não chegou a Santo Antônio. E o faz com os seguintes versos: “Balão apagado / Não entra no céu / No inferno, tu serás respeitado / Tu tens tanto pecado / Que eu tiro o chapéu”.
Todavia, na manga do braço destro da criatura, há duas cartas de baralho. Sendo que uma delas é identificável. Tratando-se do Ás de Espadas. Que, no pôquer, pode transformar uma mão ruim em boa. E, no tarô, representa o início de uma nova jornada.
Dentro do álbum, há uma riqueza lírica que leva à possível elaboração de uma “Ópera Blues”. Contando, a cada música, a história de um herói. A partir de “Bolero Maldito”. Em que, na primeira pessoa, ele faz um relato da sua tragédia ao explanar: “Quando eu era moleque, eu era meio idiota / Quando eu cresci, eu fiquei muito pior”. Uma informação que é respaldada na música “Whisky Cabrón”. Dado que em seus versos constam: “O meu nome tá mais sujo / Que pornografia de segunda mão”. O que, em “Velha Tatuagem”, é explicado através do seguinte refrão: “Eu tatuei o nome dela no meu braço / Eu tatuei até não me sobrar espaço / E aquela vaca me trocou por outro macho / No nome dela eu tatuei ‘piranha’, embaixo”. Algo que, em “Sangue de Segunda”, leva o protagonista à fossa. Como, então, ele esclarece: “Bebi desodorante vagabundo / Pra repor meu álcool / Tudo o que eu amava, nessa vida / Foi pro saco”. Porém, em “Blues do Inimigo”, ele demonstra ter a ciência de que nem toda dignidade foi perdida. Orgulhando-se disso ao alardear o seguinte fato: “Corre por aí / Que eu não sou fiel / Mas eu pago o meu cigarro / E minha conta no bordel”. E, em “Nascido em São Paulo”, ele planeja uma nova jornada ao mencionar: “Um dia eu vou pro Sul / Pra ver as loiras de lá”. Entretanto, a coisa não é tão simples assim. Já que, em “Tinhoso”, ele se recorda da “inhaca” de um passado que nunca passará. Visto que ele relata: “Vendi minha alma a troco de pinga / Mas o Tinhoso não me chamou ainda”.
Agora, na oitava faixa, há uma pausa. Pois em “Charles Bronson Blues” o ritmo é quebrado por um funk instrumental.
Sem mais, em “Que o Diabo lhe Carregue”, o herói volta a flertar com a derrota. Ora que, por meio dos versos: “Minha cerveja / Tá pegando dengue / Num balcão de botequim”, ele noticia o fato de que o dissabor da vida o impede de se embriagar. E, em “Blues 56 – Lobo no Mar”, ele se lembra de que nem tudo é tão ruim que algo de bom não faça parecer pior. Dado que ele esmiúça essa condição ao cantar: “O mar não tá para peixe / Mas sou gerente do puteiro”. Por fim, em “Oração para um Ordinário”, há sua versão cristã para a “Sala do Julgamento”, do “Livro Egípcio dos Mortos”. Uma sala em que, perante Anúbis, o coração, simbolizado por um escaravelho, é colocado sobre um dos pratos de uma balança. Enquanto, sobre o outro, é disposta a pena da Deusa Maat – uma entidade que personifica a justiça. E só o equilibro permitirá que a alma errante adentre ao paraíso. O que, em contrapartida, na lógica cristã, coloca o ônus da vida ao encargo de Deus. Delegando a Ele, e não à própria consciência, a responsabilidade pelos atos de quem atravessou a vida. E assim, à Divindade o herói implora: “Não peço exagero / Só uma garantia / Que o nome deste filho / Seja limpo em tua pia”.
Doravante, em uma de suas chamadas, Ricardo Côrte Real citou um trecho da introdução do livro “The Story of the Blues”. Publicado em 1969 e escrito por Paul Oliver. Do qual foi extraída a seguinte descrição: “O blues é o lamento dos oprimidos, o grito de independência, a paixão dos lascivos, a raiva dos frustrados e a gargalhada do fatalista. É a agonia da indecisão, o desespero do desempregado, a angústia dos destituídos e o humor seco do cínico”.
Ademais, na noite do dia 19 de julho de 2011, o frio fazia com que as pessoas se espremessem, no estacionamento do Ginásio Constâncio Vaz Guimarães. E o cheiro de couro era o indício de que muitos se aqueciam de dois jeitos. Primeiro, fisicamente. Por meio de ajeitadas jaquetas. E, em segundo, intelectualmente. Ao repelir qualquer defensor dos direitos dos animais. Que, com sua conversa fiada, “enfrescalharia” ainda mais a noite.
Assim, no (vulgo) Ginásio do Ibirapuera, ocorreu o “Ibira Moto Point”. Um evento realizado pela “Federação dos Motoclubes do Estado de São Paulo”. Evento que teve como atração musical a banda “Cracker Blues”. Que toca a autêntica música sertaneja norte-americana. E é composta por Coruja, na gaita e no vocal, Gaúcho, na bateria, Krüger, no baixo, e Marceleza, na guitarra; contando com o charme de Fernanda, a galega, e de Larissa, a morena, no acompanhamento. Sempre sob um figurino todo inspirado nos produtos de um brechó especializado em costumes e assessórios dos filmes de Sergio Leone.
Sem mais, na noite em questão, a banda também comercializou o seu primeiro e único álbum. “Entre o México e o Inferno”, lançado em 2009. Um álbum que tem na capa um Capeta ilustrado em estilo mangá. Muito bem-ajambrado. Com um terno grafite, anéis de “cafetão” e um chapéu-coco.
Um chapéu que ele tira da cabeça, em um elegante gesto de saudação. Relembrando a canção “Balão Apagado”. Que, em 1936, Noel Rosa lançou. Na qual o Demônio responde a um bilhete que se extraviou e não chegou a Santo Antônio. E o faz com os seguintes versos: “Balão apagado / Não entra no céu / No inferno, tu serás respeitado / Tu tens tanto pecado / Que eu tiro o chapéu”.
Todavia, na manga do braço destro da criatura, há duas cartas de baralho. Sendo que uma delas é identificável. Tratando-se do Ás de Espadas. Que, no pôquer, pode transformar uma mão ruim em boa. E, no tarô, representa o início de uma nova jornada.
Dentro do álbum, há uma riqueza lírica que leva à possível elaboração de uma “Ópera Blues”. Contando, a cada música, a história de um herói. A partir de “Bolero Maldito”. Em que, na primeira pessoa, ele faz um relato da sua tragédia ao explanar: “Quando eu era moleque, eu era meio idiota / Quando eu cresci, eu fiquei muito pior”. Uma informação que é respaldada na música “Whisky Cabrón”. Dado que em seus versos constam: “O meu nome tá mais sujo / Que pornografia de segunda mão”. O que, em “Velha Tatuagem”, é explicado através do seguinte refrão: “Eu tatuei o nome dela no meu braço / Eu tatuei até não me sobrar espaço / E aquela vaca me trocou por outro macho / No nome dela eu tatuei ‘piranha’, embaixo”. Algo que, em “Sangue de Segunda”, leva o protagonista à fossa. Como, então, ele esclarece: “Bebi desodorante vagabundo / Pra repor meu álcool / Tudo o que eu amava, nessa vida / Foi pro saco”. Porém, em “Blues do Inimigo”, ele demonstra ter a ciência de que nem toda dignidade foi perdida. Orgulhando-se disso ao alardear o seguinte fato: “Corre por aí / Que eu não sou fiel / Mas eu pago o meu cigarro / E minha conta no bordel”. E, em “Nascido em São Paulo”, ele planeja uma nova jornada ao mencionar: “Um dia eu vou pro Sul / Pra ver as loiras de lá”. Entretanto, a coisa não é tão simples assim. Já que, em “Tinhoso”, ele se recorda da “inhaca” de um passado que nunca passará. Visto que ele relata: “Vendi minha alma a troco de pinga / Mas o Tinhoso não me chamou ainda”.
Agora, na oitava faixa, há uma pausa. Pois em “Charles Bronson Blues” o ritmo é quebrado por um funk instrumental.
Sem mais, em “Que o Diabo lhe Carregue”, o herói volta a flertar com a derrota. Ora que, por meio dos versos: “Minha cerveja / Tá pegando dengue / Num balcão de botequim”, ele noticia o fato de que o dissabor da vida o impede de se embriagar. E, em “Blues 56 – Lobo no Mar”, ele se lembra de que nem tudo é tão ruim que algo de bom não faça parecer pior. Dado que ele esmiúça essa condição ao cantar: “O mar não tá para peixe / Mas sou gerente do puteiro”. Por fim, em “Oração para um Ordinário”, há sua versão cristã para a “Sala do Julgamento”, do “Livro Egípcio dos Mortos”. Uma sala em que, perante Anúbis, o coração, simbolizado por um escaravelho, é colocado sobre um dos pratos de uma balança. Enquanto, sobre o outro, é disposta a pena da Deusa Maat – uma entidade que personifica a justiça. E só o equilibro permitirá que a alma errante adentre ao paraíso. O que, em contrapartida, na lógica cristã, coloca o ônus da vida ao encargo de Deus. Delegando a Ele, e não à própria consciência, a responsabilidade pelos atos de quem atravessou a vida. E assim, à Divindade o herói implora: “Não peço exagero / Só uma garantia / Que o nome deste filho / Seja limpo em tua pia”.
Empório Laura Aguiar - Rua Gabriel Piza, 559, Santana
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Telefone: 2977 0471
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