quarta-feira, 16 de março de 2011

SANDY

A entrega do prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood – o afamado “Oscar” – é um festival de paradoxos. E, portanto, é um evento avesso às apostas. Pois o seu resultado não está vinculado às vantagens do favorito. Porém, à sorte de o azar do azarão se afirmar.
Todavia, em 1973, o filme “O Poderoso Chefão” chegou ao momento derradeiro da premiação com um Oscar em cada mão: o de melhor ator e roteiro adaptado. E de longe seguia o seu concorrente mais próximo. O filme “Cabaret”. Que carecia de uma estante para colocar suas oito prendas: de melhor ator coadjuvante, atriz, direção de arte, diretor, edição, fotografia, trilha sonora e som.
Doravante, o, então, histórico da premiação demonstrava a superioridade do filme dirigido por Bob Fosse. Cuja consagração, por meio da conquista do troféu de melhor filme, seria uma consequência natural.
Entretanto, a estatueta foi dada ao filme dirigido por Francis Ford Coppola. O que, em qualquer época, seria um disparate.
Seria?
Sim. Caso o “tempo” não camuflasse o imbróglio como uma resolução visionária ao imortalizar o “O Poderoso Chefão” como um dos melhores filmes de todos os tempos.
Sem mais, dentre os “Oscares” conquistados por “Cabaret”, o de melhor atriz proveio do talento de Liza Minelli. Liza Minelli que soube protagonizar uma das cenas mais notórias da “sétima arte”. Em que entrou na pele da “showgirl” Sally Bowles e cobriu a sua alva tez com um figurino preto. Com um par de botas de salto alto, meias de seda, cinta-liga, “minishort”, colete frente única, gargantilha de veludo com pingentes gota e chapéu-coco. E, ao redor de uma cadeira, dançou ao cantar “Mein Herr”.
Dentro da proposta de parodiar as cenas marcantes do cinema, essa foi escolhida para servir de tema para o novo comercial da Devassa. Uma peça eletrônica que tem como protagonista a Sandy. Que, ao interpretar a sua própria persona, tenta se posicionar entre a ficção e a realidade. Ou ser um limite entre ambas. E, por isso, de um lado, é assombrada pela sombra de Liza Minelli. Já que, por mais que rebole e se esforce para transpira uma gota de “sex apple”, não convence. Pois o seu lado devasso é tão suave que somente um pervertido a levaria a sério.
Do outro lado, a ideia de contrastar a sua reputação com a de sua antecessora é uma falta de senso. Dado que a sua fisionomia é pontuada pela pureza de um recém-nascido. Tanto que suscita o pensamento de que ela se banha vestida, a fim de preservar o pudor. Enquanto Paris Hilton não perde o porte de depravada mesmo quando está com as pernas cruzadas. Porque, na sua linguagem corporal, isso é uma ameaça de doença venérea. Já que é um convite a descruzá-las.
Ademais, o reclame usa como mote para a trama uma alusão ao provérbio que diz: “a ocasião faz o ladrão”. Uma falácia! Posto que ele propõe uma generalização do comportamento coletivo ao transmitir para uma superficialidade externa o ônus de uma verdade interna. Contudo, a propaganda derrapa no paradoxo ao somar oportunidade com oportunismo. Quando a personagem vivida por Sandy apanha um casco e, como uma perita em gargalo, na quina do palco o abre. E, em virtude do som causado pela ação, é coberta pelas luzes da ribalta. Encontrando o cenário pronto. Para, então, deixar o seu lado apedeuta instigá-la ao indagá-la: “Por que não?” Sem mais, ela sobe ao tablado e começa a dançar. E, assim, coloca o seu lado perverso para fora. Visto que, em vez de tirar o sutiã, ela atira latas de Devassa para a plateia. Em um verdadeiro ato de sacanagem. Pois não há troça maior do que distribuir uma bebida que, por uma questão de eufemismo, é chamada de “cerveja”.




Empório Laura Aguiar - Rua Gabriel Piza, 559, Santana
São Paulo/SP
Próximo ao Metrô Santana

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