sábado, 12 de dezembro de 2009

The Power Of Love

Noutra noite, Pai Naliatti de Ogum do Gantois apreciava uma cerveja, no boteco. E compenetrou seu olhar no copo de cristal. Principalmente nas nódoas que o reflexo das luzes do ambiente criavam sobre o recipiente. Que eram retocadas pela cor dourada da “breja”. Também se tornando disformes à medida que escorria sobre a lisa superfície a umidade que a baixa temperatura da bebida sobre a mesma gerava. Ademais, nessas manchas ele viu surgir uma imagem. Algo que o intrigou. Pois se parecia com a efígie de Elvis Presley. E isso lhe pareceu bacana. Quando um ícone do rock o acompanharia em um momento como esse? Contudo, de repente, a coisa mudou de rumo. Visto que a imagem adquiriu a silhueta de Nossa Senhora. O que ele também entendeu como honroso. Na Bíblia, ou em qualquer texto apócrifo, não há o relato de que alguém bebeu em companhia de tal figura. Quando a imagem adquiriu uma feição masculina, novamente. Só que com um desenho familiar. Com o jeito de alguém próximo ao Oráculo de Santana. Sim, o seu irmão. “Mas o que é que o Marcelo faz aí?”, ele matutou. Matutou também sobre a possibilidade de manter tudo, no entanto, em segredo. Posto que o brasileiro tem o péssimo hábito de só pensar em besteira. E, junto, cultiva a triste mania de alardear as deduções. Por isso, com a sua sabedoria de médium, Pai Alê esperou por uma informação que desse um sentido às três imagens. Sem mais, tomou um gole e aguardou. Até que, junto à figura de Marcelo Naliatti, se formou uma nova imagem. Que lembrava um obelisco com duas estrelas na base. O que reconheceu com a insígnia de um Brigadeiro. E concluiu que o seu irmão entraria para a aeronáutica. Entretanto, ele não tinha mais idade para isso; passara dos trinta anos. O que não importava. De alguma forma isso iria acontecer. Visto que a mensagem era clara. Pois o Elvis interpretara um piloto de avião no filme “No Paraíso do Havaí”. A insígnia de Brigadeiro dispensava interpretações. E, por fim, tudo seria abençoado por Nossa Senhora. Sem mais, lágrimas correram sobre a face de Pai Alê. Lágrimas motivadas pela felicidade de ver seu irmão progredir na vida. E não, causadas por algum feito colateral da “manguaça”.
Doravante, o tempo passou. E, numa noite, Pai Naliatti, em companhia de alguns seguidores, numa rotineira visita, foi à casa do irmão. Com o fim de degustar uma “geladinha” e confabular sobre a vida.
Lá chegando, encontraram o cujo todo vestido de branco. Impecavelmente trajado com um jaleco de cozinheiro.
“Será que ele arranjou um emprego no refeitório do Campo de Marte?”, Pai Alê, mentalmente, se indagou. “De algum modo, a profecia tinha de se realizar”, se conformou.
Quando os visitantes foram convidados pelo fantasmagórico anfitrião a segui-lo até a cozinha.
Onde o viram, com uma colher de pau, misturar alguma coisa que estava dentro da panela. Algo com cheiro de chocolate.
- O que você está preparando? – alguém perguntou.
- Brigadeiro – respondeu o cujo.
E, nesse instante, Pai Naliatti compreendeu a previsão. Entendendo que o Elvis representava a veste branca. Já que trajara uma roupa parecida em seus últimos shows, no Havaí. Quanto ao brigadeiro, ele dispensava interpretações. Mas e a Nossa Senhora? Ela houvera sido um lapso do inconsciente coletivo. Onde, por instinto, o vidente caiu na armadilha de associar o aparecimento de qualquer imagem feminina a uma manifestação da dita. Quando era o esboço da nova namorada de Marcelo. Pela qual ele fazia de tudo. Até brigadeiro. O que fez Pai Alê explanar a seguinte conclusão:
- Você tá dominado, meu irmão. Tá dominado!




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